TRECHO DO LIVRO "O LAGO DOS PEIXES ETERNO"
UM PEDACINHO SIGNIFICATIVO DO LIVRO
"O LAGO DOS PEIXES ETERNOS".
Um velho peixe havia esperado muitos anos,
além daqueles que sua natureza lhe permitia, por seu descanso eterno, mas pelas
mãos de um pescador (apesar de que a sabedoria maior de um peixe é livrar-se
dos letíferos anzóis). Entendia ele que sua existência, exageradamente longa,
era o nó que atrasava o seu lago. Esse atraso seria causado pelo excesso de
influências duradouras de elementos internos, deixando o lago sem contato
externo, principalmente com os pescadores. Influências imposta por ele durante
muito tempo.
Na natureza não há essa de ética humana, a
vida se dá pelo consumo de seus recursos. A roda da vida é sustentada pela
cadeia alimentar. E quando há muitos para comer, falta comida; e quando é o
contrário, quando há muita comida, algum tipo de problema ocorre naquele
espaço, como a população de mosquitos que cresce em detrimento da população
predador, como por exemplo, os lagartos, como os calangos.
O lago de peixes velhos ou o lago dos peixes
eternos, como era conhecido pejorativamente pelos seres dessa floresta,
necessitava mudar. Esse era o papel do Velho Peixe e do jovem Pássaro Carão. E,
sem saber, esses dois moradores da selva vizinha da comunidade Canarinho,
estavam plantando ali as sementes da preservação ambiental de maneira
sustentável, isto é, de maneira que a geração presente não atrapalhasse a
existência das gerações futuras para satisfazerem as suas necessidades vitais,
quer dizer, usando adequadamente os recursos que a natureza e o progresso
humano oferecessem, interagindo no espaço geográfico, mudando o que pudesse ser
mudado, deixando intocável o que não devesse ser mudado, fazendo nascer uma
nova natureza. Ou seja, praticar o fundamento da vida que é preservar-se e
desenvolver-se simultaneamente.
Eles entendiam que a natureza deveria servir
aos homens como a mãe que amamenta o seu primeiro filho: mantendo-se saudável
para amamentar o seu segundo filho que poderia vir no futuro.
— Se
você não sabe, vivemos próximos à era da nova natureza — disse o velho peixe ao
pobre pescador por um dia.
— Nova natureza?! O que é isso? — indagou o
pescador sem anzol.
— Nós, da floresta, nós que sentimos mais na
pele a força e os segredos da natureza, porque não precisamos criar uma natureza
artificial para nos embalar, sabemos o que está acontecendo com a Nossa Mãe. E
com a ciência que vocês têm, e que tive o prazer em conhecer, se vai muito
longe se vocês quiserem para salvar a natureza, não mais a velha, mas a nova
natureza, a que é feita pelas sobras da natureza e o que vocês humanos
acrescentarem.
— Nossa mãe?! A minha já fale... — tentou se
explicar o pescador embriagado.
— A nossa mãe natureza, seu tolo! — intrometeu-se
gritando o peixe falante.
— Ah, sim! — respondeu, meio sem jeito, o
pescador.
— Ela está entrando num período de mudanças às
quais passam pelas decisões dos seres humanos. Aliás, elas começam pelos
humanos e terminam por eles também. Você não sabe disso, eu sei, os cientistas
estão se acertando para denominar essa nova era de antropoceno, a era em que o
ser humano mudou tanto a paisagem desse belo planeta, que se pretende levar seu
nome, culpando-o por desgraças naturais que acontecem e que vão acontecer daqui
a alguns anos. O planeta Terra não vai ser
destruído. O que vai acontecer é que muitos seres vão desaparecer, o planeta,
não. Seres vivos vão morrer, inclusive humanos. E nesse intervalo, em que
conversamos, existem seres humanos que estão lutando para continuar tendo uma
natureza bela e útil. Você conhece alguém que esteja nessa luta, ou você só
conhece ao redor de seu copo de cachaça?
Comentários
Postar um comentário
Seu comentário, de qualquer forma, é bem vindo.